Caixa de Pandora

Antes de você vir, trabalhei tanto pra tentar abrir minha Caixa de Pandora, para abrir a porta trancada dentro de mim. Tentava, tentava, mas só conseguia breves olhadas pelo tranco, pela fechadura.
Quando você nasceu senti que algo quebrou em mim. De repente, a porta escancarou! A Caixa de Pandora explodiu em mim! Meus maiores medos, fraquezas, defeitos, a solidão, o desamparo, a paralisia, o terror, o terror! Eu não queria tanto ver o que havia na Caixa, atrás da porta? Toma! Tudo de uma vez! Um tsunami, um tornado, um arrebatamento. Mergulhei mais fundo do que nunca. Fui tacada no fundo do mar, no fundo da terra. Fui jogada dentro do meu próprio núcleo. Me afoguei, me sufoquei. Sozinha, abandonada, rejeitada. Eu fui bebê.
Agora contemplo a porta, a Caixa aberta. Medo ainda, mas também experiência e sabedoria. Há muito poder aqui dentro. No fim, você foi a chave que me trouxe até aqui. Obrigada.

Leoa

Foi pra isso que desejei tanto ter um filho. Sempre quis saber como era era amor tão singular, tão profundo e inxeplicável.
Quando você nasceu eu confesso que não entendi onde estava esse amor todo que todo mundo dizia. Sentia por você muito carinho, mas muito estranhamento também. Eu já tinha lido que isso era normal, mas ficava me perguntando se um dia o amor ia crescer.
Puta merda, Eduardo, como esse amor cresceu! Agora começo a sentir o delírio desse amor. É uma coisa louca e muito primitiva, instintiva e bruta. Um amor tão grande que dói. Dói no peito sentir. Enche os olhos de lágrimas.
É um amor selvagem. Nada pode com a fúria da leoa protegendo a cria. Você fez saltarem minhas garras, meus caninos, meus rugidos. Você me fez leoa.

Cresce!

Meu amor, olha que cara de meninão que você está! Não sabe a alegria que me dá te ver saudável e sorridente! 
Meu filho, tudo o que desejo é que possa me redimir pela minha ausência e estar presente pra você sempre. 
No começo não pude te dar tanto colo quanto gostaria de ter dado. Mas, colo não te faltou. Você nasceu em uma família linda e teve muito, muito amor. Vovós tios, tias e primos, todo mundo queria te agarrar um pouquinho e fazer chamego. Nunca te faltou afeto.
E agora estou aqui de volta, presente pra te dar todo o amor do mundo. Meu peito está aberto para sua cabeça se encostar, meu colo pronto para te ninar. Querido, esse colo sempre vai estar aqui. Mesmo quando você for um baita homão da porra, dono de si, independente e valente, meu colinho ainda vai estr aqui para todas as lágrimas derramadas por amores não correspondidos, por decepções e medos. Mamãe está aqui. Mamãe vai estar aqui, meu filho. Te amo.

Nós

6 meses depois, finalmente somos nós. Eu e você, meu bebê. Finamente estamos começando a falar a mesma língua, a encaixar nossos abraços, acostumar com nossos aconchegos, trocar risos, sorrisos e olhares, muitos olhares silenciosos. Me pergunto sempre o que você vê quando olha apara mim. Eu nos seus olhos vejo amor. Vejo amor puro, simples, inexplicável, eterno e infinito.
Finalmente eu comecei a sentir o arrebatamento que é o amor de mãe. E já percebi que é maior que tudo que já me mudou. Um Bing Bang particular.

Fome

Que alegria sentir sua fome no meu peito! Que coisa mais linda suas bochechas mexendo enquanto você mama cheio de vontade. Meu amado filho, quero te nutrir de força, de alegria, de saúde e tranquilidade; quero te nutrir de sonhos.

Meu amor, desculpa te apressar. Quero muito te ter nos meus braços o dia todo. Mas, preciso aprender a respeitar seu tempo. Me desculpa. Vou tentar ter paciência contigo, conosco. Amamentar tem sido difícil para nós dois. Você sofre e chora; eu também. Choramos juntos. Me abraça. Abraçados, respiramos fundo. Vamos conseguir. Não hoje, não agora. Sem pressa. Respira no meu peito. Dorme aqui. Sente meu cheiro. Me ensina a respeitar seu tempo, a respeitar você. Dorme no meu peito e toma a mamadeira. Amanhã tentamos de novo. Te amo, Dudu.

14 de agosto

Ontem percebi pouco do que quer dizer a maternidade e o encontro com a própria sombra. Crises de ansiedade e choros compulsivos, tão característicos de um dos períodos mais difíceis que passei. A melancolia, o choro sem razão. O medo. O entorpecimento.

Mas, a tarde te tive nos braços. Tanto tempo te segurei. A alegria de poder te alimentar e de ser seu carinho, conforto e calor enquanto você dorme. Aquelas horas que passei com você nos braços, só te olhando, hipnotizada com você, aquelas horas renovaram meu espírito. Estou completamente apaixonada. Te amo demais.

Você é meu filho. Eu tenho um filho. Foi tudo tão rápido que eu não consegui processar. Confusão, desespero, medo, frio na barriga, desamparo. Estou até agora tentando entender o que aconteceu conosco. O leite, a dor, a cicatriz, voltar pra casa e você ficar aí. E eu aqui com a culpa de não estar ao seu lado o tempo todo, de te deixar sozinho. Meu amor, tenho tanto amor pra te dar. 

Tento não pensar no depois para ter forças de viver um dia de cada vez, mas não consigo parar de sonhar com o dia de te trazer comigo. Parece um sonho tão distante. Tudo parece tão irreal. Peço força para suportar bem tudo isso e paciência para te esperar. Espero que em breve possamos estar enfim juntos aqui, coladinhos. Te amo tanto.

Meu amor,
Você não imagina o quanto sou feliz por você estar bem.
Essa semana mamãe e papai tiveram um grande susto. Eu fui no médico e ele fez uma cara muito feia quando ouviu você. Achou você quieto demais. Ficou preocupado. Me mandou ficar de repouso e pediu um exame diferente pra saber se você estava bem. Eu ia trabalhar aquele dia, mas ele falou pra eu não ir. Fui pra casa meio atordoada. Seu pai ficou sério e tenso o tempo todo. Eu preocupada e triste.
Eu nem conheço você, mas já te amo tanto. Te amo tanto e te amei antes de você estar aqui comigo até. Sempre amei você.
Que dor imaginar que você poderia não estar bem. Dormi muito mal à noite e acordei muito cedo. Quando fui fazer o exame minhas mãos suavam muito e molhavam tudo de tanto nervoso.
E no meio do exame seu coração do nada disparou e a máquina começou a apitar e fazer barulhos estranhos, e às vezes seu batimento sumia! Eu e seu pai quase infartamos de mãos dadas naquela salinha.  Mas, então eu senti você mexer muito e o médico confirmou: você só tinha acabado de acordar!
Você não imagina a vontade de chorar que fiquei quando vi que você tirou 10/10 naquele exame, que estava tudo bem.
Você tem sido um bebê quietinho, sim. E eu sei quando e quanto você costuma mexer porque eu te sinto e te toco todo dia. Estou tentando te conhecer. E de algum jeito, acho que já conheço você melhor do que os médicos. Cada mexidinha de rebolado, de fome, cada soluço. Te amo demais.

Meu amor,

converso com você todos os dias e te conto muitas coisas. Sei que você me sente mais do que posso imaginar. Estou criando esse blog para guardar meus sentimentos e registrar nossas experiências para você ler depois.

Primeiro quero que você saiba que você foi muito desejado. Ei acredito que existam muitas maneira de experienciar o amor: amor incondicional, amor romântico, amor fraternal, amor por um animal, amor por um filho, etc. Eu já pude sentir e viver muitos desses amores e sempre sonhei em saber como era o amor de mãe.

O amor que sinto pela nossa amília, pelo seu pai, pelo Blue, esse amor é tão grande, tão indescritível e profundo que eu mal podia imaginar como seria o amor por um filho. Deve ser a coisa mais surreal do mundo.

E por isso estou aqui agora carregando no meu ventre meu grande sonho, esse amor.